segunda-feira, 15 de março de 2010

Já estive mais perto...

Saí porta fora. A multidão matutina sustentava a sua vida rotineira, pronta para repetições constantes e conformistas.Deambulavam pelas ruas como se a existência não fosse mais que uma obrigação à qual o ser humano só deveria acrescentar estabilidade. A musa que eu perdi ensinou-me o contrário. Não interessa procurar o caminho mais fácil se este está preso a uma falta de identidade. Eu nunca o procurei...
A questão é: num milhão de pessoas, num milhão de números pertencentes às estatísticas, presos a uma necessidade de relação social que limita de certa forma o ser humano, quantos de nós, caros leitores, podem declarar a bom e alto tom "Eu faço a diferença!"?
Ela sabia como fazer a diferença, sabia mostrar alicerces de aventura num universo que anteriormente me parecia menos interessante. Má atitude minha, eu é que a perdi...
Foi a primeira vez que acordei de manhã depois de uma noite agreste daquelas, o que me leva a pensar que, afinal, deve ter acabado cedo. O álcool apagou-me parte da minha vida... umas meras horas, mas, no entanto, não as vivi pelas minhas próprias formas de encarar a dor. No dia seguinte senti-me menos eu, tão espectador como um deus- e veja-se que eles estão tão presentes que nem sequer podem beber um café connosco. Acima deles estão os nossos amigos! Esses pelo menos não nos negam uns bons elogios e umas graçolas no meio da tormenta.
E o dia continua comigo parado no café...


Paulo Nogueira Ramos
15 de Março de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

Algo perto do que sou...

Acordei com uma garrafa de uma qualquer bebida espirituosa na mão. Se bem me lembro, quando a comprei nem sequer quis reparar na marca. O que me interessou foi saber que com os poucos e dementes trocos que eu controlava poderia comprar tabaco para racionalizar e álcool para me alienar. O estado de pouca lucidez não foi o mais estranho. Noites aos tropeções por entre ruas grotescas com indivíduos decadentes já eu tive muitas! A problemática centrava-se toda naquela rapariga... naquela mulher que naquele indicado momento não se encontrava ao meu lado.

Declarei para mim mesmo: "Estúpido... fuma um cigarro...". Roubei da minha cómoda um desses vícios que tanto me mata, mas que tanto bem me faz, e senti-me cheio de chagas. Sou tudo menos humano, mas todos nós somos monstros por sermos alvos certos da vida.

Ai... a vida! Só houve outra palavra que eu encontrei para a substituir! Foi o nome da rapariga que amei... que ainda amo! Caros leitores, oficialmente minorias ou imaginação minha por serem poucos ou nenhum a ler esta minha punhetice intelectual, nunca façam de um amor um sinónimo para a vossa vida, porque depois perdem essa pessoa e perdem a vida nela sem sequer saberem morrer verdadeiramente .

Comecei a vestir a roupa que deixei tombada no chão do meu quarto- pelo menos acabei por ir parar àquela divisão do mundo, não fosse a gravidade num momento de menos clareza minha inverter-se e empurrar-me para o Sol. Pensei: " Acordei vivo... ou algo parecido..."

Paulo Nogueira Ramos
4 de Março de 2010